A palavra “cosmético” vem do grego kosmetikós, que quer dizer “o que serve para ornamentar”, para decorar, enfeitar. Deixar mais belo. Daí em diante: Primer. Base. Pó compacto. Sombra. Máscara para cílios. Delineador. Blush. Batom… E não acaba! Tudo culpa dos faraós que já no Egito antigo se preocupavam com maquiagem.
As pinturas nos sarcófagos das pirâmides respeitavam a lei da frontalidade, quer dizer, não pintavam somente o que viam, mas tudo o que existia. Nessa lei, os olhos eram representados sempre com destaque por acharem que eles eram a alma da pessoa. Por causa dessa crença, as mulheres caprichavam no make em volta dos olhos, bem delineados com pó de khol. Pó de khol é o produto de uma poeira preta condensada do qual é feito o Kajal, um lápis forte e macio. No antigo Egito esse Kajal era um produto natural, fabricado pelos próprios egípsios, porém hoje em dia é perigoso tentar faze-lo em casa, pois há muito chumbo na composição do khol e pode ser infeccioso, cuidado.
Há passagens da Bíblia que evidenciam que Jezebel era muito vaidosa e já usava maquiagem e se enfeitava com ouro. “Em seguida Jeú entrou em Jezreel. Ao saber disso, Jezabel pintou os olhos, arrumou o cabelo e ficou olhando de uma janela do palácio”. Outra passagem é como uma metáfora para as mulheres, onde Deus condena a vaidade de Jerusalém (tomando a cidade como uma mulher), O que você está fazendo, ó cidade devastada? Por que se veste de vermelho e se enfeita com jóias de ouro? Por que você pinta os olhos? Você se embeleza em vão, pois os seus amantes a desprezam e querem tirar-lhe a vida.” Isso porque os católicos já percebiam que o uso de maquiagem era evidência de vaidade, de sedução, de erotismo.
Porém, para além do campo da sedução, a maquiagem também sempre foi usada como instrumento de rituais e crenças. Além das egípsias, o kajal sempre foi muito utilizado pela religião indu que acreditava e ainda acredita que essa ‘tinta natural’ proteja os bebês e as crianças contra os ‘olhos do diabo’. Em algumas tribos há maquiagens diferentes para rituais de casamento, de nascimento, de oferendas, ou de batalhas. Isso porque os indígenas acreditam nas energias das cores e das composições naturais dos pigmentos.
Além do Kajal que delineava toda a volta dos olhos, era utilizada uma sombra esverdeada feita a partir de metais. Esse pó metálico grudava nas pálpebras e, além de deixar tudo muito mais bonito, protegia a pele.
Aliás, proteção era uma questão importante para Cleópatra, por exemplo. Diz a lenda que toda noite, antes de dormir, Cleópatra aplicava uma pasta no rosto, uma mistura de leite de cabra e miolo de pão, além claro, de tomar banho de leite com mel. O que deixava a pele mais macia e clara, essa era a moda daquela época. Os homens deviam ser mais morenos e as mulheres mais claras. Essa é uma pista bem nítida de que a sociedade era totalmente machista. Ter a pele mais clara significava que a mulher era mais frágil e o homem é que trabalhava e pegava no pesado embaixo do Sol.
Mas pele clara não era exclusividade de Cleópatra, lá por meados do século I, Popéia Sabina – segunda esposa do imperador romano Nero – lançou essa moda pela Roma antiga. Conta-se que todas as mulheres a imitavam usando a famosa pasta de leite de jumenta e miolo de pão durante a noite. E durante o dia, pintavam as veias sobre a pele com tinturas azuis que as deixavam com aspecto translúcido. Mais claro que isso, impossível!
E não para por ai. Na Renascença italiana as mulheres usavam alvaiade, um pigmento branco totalmente à base de chumbo para dar o mesmo efeito de pele clara – conta-se que para curar os danos que o chumbo causava no rosto, durante a noite as mulheres usavam uma pasta feita de vitelo cru.
Depois, na era gótica, a obsessão pelo rosto ávido e as formas alongadas – característica própria do estilo artístico da época – era tanta que as mulheres raspavam os cabelos na parte da testa prolongando até quase a metade da cabeça e faziam o mesmo com as sobrancelhas, isso alongava o rosto.
No Japão, as gueixas rebocavam – literalmente – o rosto com um pó argiloso feito de arroz, o oshiroi. Toda a superfície da face era revestida com esse pó de arroz e deixava as mulheres realmente brancas com aspecto de porcelana, como bonecas. Mas além dessa máscara quase maciça sobre a pele, as japonesas usavam e as gueixas ainda usam uma bochecha rosada em formato circular, cílios pretos com a volta toda avermelhada e lábios em formato de coração bem vermelhos.
Porém, roubando idéia de toda essa criatividade feminina em prol da beleza, foi na verdade, um homem quem inventou a base cremosa. A primeira de toda a história. Galeno criou uma mistura de água, cera de abelha e óleo de oliva – imagino as situações em que as mulheres se metiam por causa desse creme, de picadas de abelha a queimaduras no sob o Sol do verão europeu por causa do óleo. Depois, claro, outras pessoas foram evoluindo essa composição, até a base de hoje em dia, que tem um milhão de tonalidades e algumas até com protetor solar.
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